Resumo:

A Anemia de Fanconi é uma desordem genética de fenótipo variado, sendo o mais importante a falência medular progressiva. O transplante de células tronco hematopoiéticas (TCTH) é a única possibilidade de cura das complicações hematológicas; no entanto, após o transplante há aumento do risco para malignidades, principalmente quando na presença de doença do enxerto contra o hospedeiro (DECH), sendo a mucosa bucal freqüentemente acometida. Paciente de 36 anos, sexo feminino, portadora de Anemia de Fanconi, submetida ao TCTH (doador aparentado) aos 34 anos, foi encaminhada para a disciplina de Estomatologia da UFPR com sintomatologia dolorosa durante alimentação e DECH bucal crônico. Durante exame clínico odontológico observou-se lesões erosivas avermelhadas no palato duro do lado direito, com 1 ano de evolução. Após seis meses das consultas odontológicas iniciais a paciente retornou com massa nodular em rebordo de língua do lado direito, com consistência dura durante palpação, dificuldade para higienização bucal e limitação de abertura bucal. Após realização da biópsia incisional na lesão de rebordo lingual direito, o laudo apresentou displasia epitelial moderada sugerindo diagnóstico para Carcinoma Espinocelular. A relevância desse relato é a idade do transplante e a presença DECH crônico persistente. Portanto a visualização clínica completa e palpação particularmente daqueles pacientes de maior idade, com DECH bucal aguda ou crônica, e com diagnóstico de Anemia de Fanconi, continua a ser o exame clínico mais importante para previnir o câncer bucal no pós transplante.